EXCLUSIVO! Psicóloga quebra o silêncio sobre SuperNanny: «Foi emocionalmente esgotante»

Teresa Paula Marques lamenta o «ciberbullying» de que foi alvo «durante meses» por causa de SuperNanny, mas garante que «a página está virada»… embora mantenha contacto com famílias das crianças.

12 Jul 2020 | 14:50
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Ainda que faça televisão «há quase 30 anos», Teresa Paula Marques reconhece que «é inegável que foi com o programa SuperNanny» que se tornou «mais conhecida do grande público». E numa figura controversa, por ter sido a escolhida para o polémico formato que levou a SIC à barra do Tribunal.

Estávamos em 2018 e a psicóloga clínica encarnava a personagem de uma ama que ajudava famílias com crianças a lidar com o comportamento dos menores em casa. A estreia foi alvo de muitas críticas e o programa só teve duas emissões, até ser cancelado pela própria estação, na sequência de uma decisão judicial que a proibia de transmitir o terceiro episódio sem autorização da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens competente em relação ao menor em questão.

O caso manteve-se na Justiça. Ainda no passado mês de maio, depois de um recurso apresentado pela SIC, o Tribunal Constitucional confirmou a decisão do Supremo Tribunal de Justiça de ordenar o canal a retirar todos os vídeos referentes ao formato por atentarem contra a dignidade humana.

Dois anos volvidos, Teresa Paula Marques quebra o silêncio em entrevista à TV 7 Dias. «De modo algum me arrependo de ter feito o programa. O projeto foi-me apresentado cerca de dois anos antes, por isso, tive tempo de me informar sobre o que se tratava, de ver programas do mundo inteiro, de comunicar com outras SuperNannys. Quando entro num projeto, é porque acredito nele e, por isso mesmo, vou até ao fim, custe o que custar. Nesse sentido, nunca me arrependi de ter sido a SuperNanny portuguesa, muito pelo contrário. Sinto-me orgulhosa por ter sido escolhida para esse papel», garante a psicóloga clínica.

Aliás, Teresa Paula Marques diz guardar «muitas experiências inesquecíveis» deste programa, como o facto de ter trabalhado com a «equipa maravilhosa» da produtora Warner Bros. TV Portugal, com quem mantém «relações estreitas de amizade». Mas não só: «Também mantenho contacto com as famílias dos dois programas que foram exibidos e o que mais me deixa feliz é sentir que ajudei estas famílias a serem mais felizes. Portanto, não encontro motivos para me arrepender.»

Sobre o impacto do programa na sociedade portuguesa, deixa uma reflexão: «Existem programas que resultam nuns países e noutros não. Só posso dizer que o programa continua a ser exibido em 15 países e apenas em Portugal foram impostas regras que tornavam o programa completamente inviável.»

A psicóloga clínica só lamenta que «algum público» não tenha sabido distanciar a SuperNanny da mulher que lhe deu vida. «Uma das coisas que aconteceram foi confundirem a personagem com a pessoa. A SuperNanny é uma personagem que, em Portugal, foi eu que encarnei. Apenas isso. Acho que assiste o direito de não gostarem do programa, mas custa-me aceitar que tanto ódio tenha sido canalizado para mim, enquanto apresentadora do programa. No entanto, posso dizer-lhe que foi uma aprendizagem que me permitiu sentir o apoio dos amigos, dos colegas e de muitos anónimos que me enviavam e-mails muito simpáticos, além de descobrir que possuo bastante capacidade de resiliência», nota.

Estóica, Teresa Paula Marques ainda continuou em antena por algum tempo, enquanto comentadora do extinto programa Queridas Manhãs, apresentado por Júlia Pinheiro e João Paulo Rodrigues nas manhãs da SIC. «Depois, senti que tinha de parar durante algum tempo para digerir tudo aquilo que se tinha passado», assume agora, adjetivando 2018 como um ano «muito intenso».

«Basta dizer que terminei o doutoramento em Psicologia, fiz o SuperNanny, lancei um livro, colaborei semanalmente com o Queridas Manhãs e ainda mantive as minhas atividades como psicóloga. No meio de tudo isto, tive de lidar com o ciberbullying, que se manteve durante meses. Obviamente que tudo isso foi emocionalmente esgotante e, quando o Queridas manhãs terminou, em dezembro de 2018, senti que tinha chegado a altura de parar, de forma a conseguir digerir o que se tinha passado nesse ano.»

 

Deu vários «nãos» até ao Big Brother

 

Um ano e meio depois de ter sentido que «precisava de parar e de estar um pouco afastada do pequeno ecrã», Teresa Paula Marques dá como «certo que a página está virada» e o capítulo SuperNanny encerrado na sua vida. Momento certo, portanto, para voltar à televisão… agora pela mão da TVI.

A psicóloga clínica foi convidada para analisar o comportamento dos concorrentes do Big Brother 2020 na edição da tarde do Extra, conduzida por Mafalda Castro. «Durante esse período, recebi alguns convites para estar presente em programas de televisão, mas recusei-os sempre. Continuei as minhas atividades como psicóloga, professora e autora, até que a produção do Big Brother me endereçou este convite. Fiquei entusiasmada porque é algo muito diferente de tudo o que fiz até agora. Fui muito bem recebida pela equipa, sou muito acarinhada por todos e sinto-me muito feliz por estar neste projeto», diz à TV 7 Dias.

Sobre a experiência em si, a agora comentadora do reality show da TVI sublinha que desempenha o seu papel com «a maior seriedade possível»«Nunca perco de vista que os concorrentes merecem respeito, assim como as suas famílias. Por isso, esforço-me por tecer comentários que não agridam, nem magoem ninguém. Claro que, apesar deste cuidado, existem sempre pessoas descontentes que invadem as redes sociais com comentários depreciativos mas, neste momento, nada disso me toca, até porque não leio nada do que se escreve sobre mim. Foi uma das capacidades que desenvolvi depois da experiência que tive: tornei-me imune aos haters!», declara Teresa Paula Marques, ela que, curiosamente, durante o hiato televisivo, escreveu «um livro que já teria saído, não fosse a pandemia, que será lançado para o ano e que aborda o discurso de ódio que prolifera nas redes sociais».

E sobre o fascinante universo dos reality shows? Para a psicóloga clínica, este género de formato televisivo «são programas de entretenimento que têm a particularidade de ter como personagens pessoas vulgares, iguais a todos nós, daí que as pessoas se identifiquem com os concorrentes e vivam estes programas de uma forma muito intensa». E remata: «Trata-se de uma mini sociedade portuguesa que ali está representada. Até porque este grupo de concorrentes é muito heterogéneo e daí ser bastante rico em termos comportamentais.»

 

Texto: Dúlio Silva (dulio.silva@worldimpalanet.com); Fotografias: Arquivo Impala e reprodução TVI

 

(artigo originalmente publicado na edição nº 1738 da TV 7 Dias)

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