“Teve todo o impacto na minha vida”: Luís Aleluia recorda o eterno menino Tonecas

40 anos de carreira: Luís Aleluia esteve à conversa com a TV 7 Dias e recordou algumas das memórias mais marcantes do seu percurso.

15 Jan 2023 | 14:50
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Todos o conhecem como o eterno Tonecas, da série “As Lições do Tonecas“, e é considerado uma das figuras de referência da representação portuguesa. A TV 7 Dias esteve à conversa com Luís Aleluia e o ator falou acerca do seu percurso profissional, dos seus grandes êxitos e da relação que criou com os colegas.

“A paixão pelo teatro surge no meu Ensino Secundário. Já tinha feito teatro amador mas depois fiquei mesmo infetado com o teatro quando entrei numa companhia, no Teatro Animação de Setúbal. De facto, o teatro é uma coisa que se entranha e ainda hoje não sabemos explicar como. Não sabemos sair dele, não podemos sair dele, morremos com ele. O teatro é a minha vida. É uma paixão que me preenche muito e seria muito difícil viver sem ela”, explica.

Dividido entre Direito e o mundo da representação, o ator acabou por enveredar pelo mundo do espetáculo e deixou para trás aquela que achava ser também uma das suas grandes paixões. Apesar das dificuldades, Luís Aleluia nunca deixou de lutar por aquilo que o faz realmente feliz. “Eu venho de uma cultura em que o teatro e os bastidores do mundo do espetáculo não eram assim muito credíveis, não tinha uma grande credibilidade em termos de carreira e então a minha primeira ideia era seguir Direito. E tive a sorte e o grande privilégio de trabalhar com um senhor que tinha as duas profissões, era ator e advogado, que era o Morais e Castro, o senhor professor do Tonecas e foi maravilhoso”.

Com um currículo extenso, Luís Aleluia integrou vários projetos e não esquece o facto de ter tido a oportunidade de trabalhar ao lado daqueles que serão para sempre um exemplo e que ficarão para sempre na memória. “Tive o privilégio de trabalhar com o senhor Armando Cortez, Raul Solnado, Nicolau Breyner, Ivone Silva… Foram tantos aqueles que passaram pela minha vida, estou muito grato” diz, salientando aquilo que lhe faz mais falta. “É triste não ter fisicamente o seu abraço mas para mim nunca morrem porque um artista não morre. Deixa uma memória coletiva, não fica só na família, fica depois dentro de uma comunidade. Morrer não morrem, desaparecem, já não estão aqui fisicamente. O que me custa é não ter o seu abraço. O que me custa é eu ter uma dúvida e não me saberem esclarecer. Mas muitas vezes, para alguns que me foram muito importantes na minha vida, muito secretamente e isoladamente eu peço-lhes ajuda”.

 

O impacto Tonecas

 

Uma das memórias mais marcantes na sua carreira foi o momento em que deu vida ao menino Tonecas. “Teve todo o impacto na minha vida. Passei a ser mediático. Foi muito bom, ainda mais eu sendo produtor já nessa altura, empresário de espetáculos, eu precisava disso para poder vender os bilhetes e ser figura de bilheteira também. Aconteceu que tive essa sorte e o privilégio enorme de cair no colo das pessoas e de repente sermos seguidos por milhões de espectadores, não só em Portugal mas também em África, com os nossos emigrantes espalhados pelos país, que ainda hoje retribuem com mensagens de carinho. Eu fico muito feliz por isso, por ter contribuído”, adianta, acrescentando, “Fica a saudade das pessoas que fizeram comigo esse projeto”.

Apesar das dificuldades da profissão e de nem sempre existirem oportunidades, o artista garante sentir-se privilegiado. “Tenho feito televisão, tenho aceitado alguns convites sempre que posso, sou requisitado para a televisão, tenho feito o meu trabalho, tenho a minha produção, faço o que gosto, sinto-me um ator muito privilegiado em relação a outros colegas de um enormíssimo talento e que os produtores de televisão não os conhecem porque não vê-los ao teatro”.

Quarenta anos depois de ter dado os primeiros passos no mundo da representação, o artista garante que ser esquecido não é algo que o preocupe. “O que me preocupa é não ter deixado nada. Ter passado pela vida sem ter feito nada. Sem plantar uma árvore, sem escrever um livro, sem ter registado o meu trabalho.”

 

Texto: Sofia Pinto (sofia.pinto@worldimpalanet.com); Fotos: Arquivo Impala e Redes Sociais
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