“Tive que reaprender a falar”: Andrea recorda luta contra tumor nas cordas vocais

Andrea Soares, jurada de “All Together Now”, da TVI, recorda os momentos mais sombrios da sua vida e fala ainda sobre o lado negro da fama quando integrou a girl band, Non Stop.

17 Abr 2021 | 11:50
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Há precisamente duas décadas Andrea ganhava notoriedade pela diferença e irreverência, no programa “Popstars”, da SIC. Deste formato, que captou a atenção dos portugueses, nasceu as Non Stop, girl band com a qual iria ganhar fama.

Com uma carreira musical marcada por “altos e baixos”, Andrea Soares, que é atualmente uma das cem juradas do concurso de caça talentos, “All Together Now”, recorda à TV 7 Dias os momentos mais sombrios da sua vida artística e o dia em que pensou que teria de desistir da música depois de ter sido operada a um tumor nas cordas vocais.

Eu já sabia que tinha um tumor, mas que era benigno

O diagnóstico foi feito precocemente, e já depois do final da carreira das Non Stop. No entanto, em 2015, altura em que Andrea trabalhava em conjunto com Liliana Almeida no projeto inovador, Kaya, que consiste num misto de culturas e raízes aliado ao poderoso beat da House Music, a jurada do concurso da TVI temeu o pior. “Eu já era seguida por uma médica, porque tinha uma voz muito rouca, e porque às vezes falhava-me a voz. Eu já sabia que tinha um tumor, mas que era benigno, mas como estava com uma boa agenda com o projeto Kaya fui sempre adiando a operação”, disse, explicando que receou que a operação mudasse o seu timbre de voz.

“Tinha medo da mudança e estava aproveitar a vaga de espetáculos, até que num concerto no B. Leza, tive uma sensação muito má, que o espetáculo tinha corrido mal, já para não dizer que me esforcei porque o tumor estava muito grande e batia na outra corda vocal e isso criou-me um buraco, tanto que eu andava a tomar cortisona para amenizar a ferida que o tumor estava a criar no outro lado”, revelou.

“A médica começou a tratar-me como uma criança”

A sensação “estranha” prolongou-se pelo resto da noite, até que no dia seguinte a cantora foi atingida pelo medo. “No dia a seguir, enquanto lavava a cabeça, fiquei com aquela água no ouvido esquerdo e quando ponho a mão para tirar a água saiu sangue. Nesse mesmo momento, não sei explicar como, olhei e senti uma espécie de eletricidade a percorrer-me o corpo. Nesse instante olhei para a minha mão e disse: ‘Virou maligno’. Parecia uma voz a dizer. Liguei de urgência para a doutora Clara Capucho, que estava no Brasil. Expliquei-lhe o que me tinha acontecido e marcou-me uma consulta de urgência, para dois dias depois”, recordou, prosseguindo: “Ela fez-me endoscopia às cordas vocais e eu própria, que não percebia nada daquilo, vi que estava feio. Entretanto a médica começou a tratar-me como uma criança. Até que lhe perguntei: ‘Estou com o bicho?’, e ela: ‘Não, não posso dizer, não sei. Só quando retirarmos é que vamos saber’. Nesse dia marcou-me consulta para anestesia e dois dias depois fui operada.”

Fiquei três dias sem falar depois da operação

A cirurgia correu bem, apesar de ter sido mais longa do que o esperado. No entanto, o pior veio depois. “Fiquei três dias sem falar depois da operação. Eu sabia que não podia falar, mas ainda assim quando a médica me disse para falar e eu tento, não saiu som nenhum. Aí caiu-me uma lágrima. Não posso negar. Foi a pior sensação que já tive na minha vida. Foi ser muda durante dias”, disse.

Andrea revelou ainda como foi a recuperação: “Foi muito complicada. Eu já nem pensava em cantar já só pensava me falar. Só um ano depois, quando a médica me disse que eu estava curada é que me caiu a ficha. Fiquei um ano a fazer outras coisas porque não podia cantar. Pintei o cabelo de preto para ninguém me reconhecer na rua. Eu não queria que ninguém soubesse. Durante esse ano tive que fazer terapia da fala e reaprender a falar porque não controlava a minha voz. Eu chorava quando saia da terapia da fala e se eu visse que não estava ninguém caiam-me as lágrimas: ‘Nunca mais vou cantar na minha vida’ pensava. Foi uma fase dura.”

Assédio e agressões verbais

Tinha apenas 19 anos quando ganhou o concurso que a iria catapultar para as luzes da ribalta. Atualmente com 39 anos, Andrea Soares faz um balanço positivo dos anos em que esteve inserida na girl band Non Stop. Porém, não esconde que houve momentos que a marcaram de forma menos positiva. “Houve alguns episódios menos bons, tudo por causa do meu look. Sabiam quem eu era, mas não me chamavam pelo meu nome diziam que era ‘a gaja das Non Stop, a do cabelo cor de rosa’”, contou, relatando uma situação que poderia ter terminado da pior maneira. “Uma vez ameaçaram-me na rua por brasileiros. Chamaram-me ‘papagaio’ e ‘catatua’, queriam-me bater. Eu às vezes revoltava-me mais pelo que a minha mãe pudesse sentir. Eu só queria cantar, queria que as pessoas me conhecessem pela minha música e pela minha voz.”

Apesar de ter aprendido a lidar com o assédio, Andrea revelou que sempre viveu preocupada com o que a mãe pudesse sofrer com a sua exposição. “É muito complicado eu estar a passear com a minha mãe e alguém mandar uma boca estúpida só por causa do meu look, como por exemplo às vezes quando andava de metro, lembro-me de no que diziam: ‘As Non Stop aparecem na televisão e andam de metro? São tão ricas e andam de metro’ ‘afinal são umas pobretonas’”, recordou.

Textos: Telma Santos (telma.santos@impala.pt); Fotos: Reprodução Instagram
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