“Tudo tem um limite”: Sousa Martins defende fim dos debates “a roçar o despropósito”

Menos telespectadores, fim dos debates “a roçar o despropósito” e um novo rumo no desporto são o resumo de um ano em que o jornalista da TVI Joaquim Sousa Martins diz ter trabalhado muito.

09 Mai 2021 | 8:50
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Aos 51 anos, e na TVI desde 2003, Joaquim Sousa Martins sempre esteve ligado ao desporto, mesmo quando, há um ano, todas as modalidades fecharam as portas por causa da COVID-19. O jornalista também se fechou em casa, mas manteve-se ligado à televisão, com várias emissões diárias.

Numa entrevista exclusiva à TV 7 Dias, Sousa Martins recorda: “Durante o primeiro confinamento, que foi o mais duro, onde o futebol parou e toda a atividade desportiva, creio que estive um mês e meio em casa. E, do meu escritório, fiz três programas diários de desporto, de segunda a domingo. Portanto, a pandemia só me deu trabalho. Feito de uma maneira diferente, com outro conceito, mas eu e o Rui Pedro Brás fizemos durante um mês e meio, diariamente, um programa de manhã, um a meio da tarde e um à noite”.

Os temas, na ausência de competição, forçosamente mudaram, e durante dez, 15 minutos passou a falar de “como os jogadores estavam a treinar, na altura, em casa. Como eles se divertiam no meio do confinamento, de que forma a ciência estava a acompanhar a pandemia na área do desporto. Os que estavam contaminados, os que não estavam”. “Eu, relativamente à minha atividade como jornalista, durante o primeiro confinamento, nunca trabalhei tanto”, afiança.

 

“Interesse do público de programas de televisão baixou”

 

Após uma primeira vaga, as competições voltaram, mas o desporto em geral tinha perdido o seu tempero essencial: o público. “É disso que eu sinto mais, o calor humano. O símbolo da paixão no desporto são os adeptos. Sinto que fica ali tudo um bocadinho a meio”, analisa Sousa Martins.

Porém, a quebra de assistência não se fica pelos recintos desportivos. Mesmo sem restrições, a habitual clientela dos programas desportivos bateu em retirada e o nosso entrevistado analisa que, não só na TVI mas no geral, o “interesse do público de programas de televisão baixou”. “Creio que por faltar um bocadinho desse tempero à atividade desportiva, as pessoas largaram um bocadinho essa paixão”.

Fatores externos, como os efeitos da pandemia, levaram, no seu entender, a que o foco fossem os assuntos relativos aos efeitos do que está a acontecer em todo o Mundo. Para trás ficou “aquela velha história, se foi penálti, se não foi, que é uma discussão tremenda e que eu adoro, mas nos tempos que vivemos há mais coisas para conversar, não é? Eu não atribuo uma importância vital ao futebol e ao desporto em si, a não ser toda essa parte do lazer, da competição, da glória… como não há essa sensação de calor, as pessoas perderam um bocadinho essa vontade ver coisas”, resume.

Com o aproximar do final do campeonato e a liderança atípica do Sporting, o cenário de emoção à volta do desporto-rei está a regressar e, com ele, Sousa Martins volta a alimentar, com prazer, “esse lado da conversa, da telenovela, etc. O deporto é um bocadinho isso, seja em Portugal, Espanha, Itália… é assim, ponto final. Não queiram retirar dose a essa discussão irracional de um penálti”.

 

Sousa Martins reflete sobre fim dos debates acesos sobre futebol

 

O que já não volta são os debates acesos, pelo menos num futuro próximo, como aqueles a que se assistia às segundas-feiras em “Prolongamento” e programas do género. Os tempos são de mudança. “Houve uma retórica estratégica um bocadinho diferente daquilo que estava ser feito em relação à produção de programas. Eu falo nesta discussão quente, apaixonada, quase a roçar o despropósito, que eu gosto, mas tudo tem um limite. Nós não nos podemos esquecer de que tudo na vida tem uma validade e há aqui um momento em que nós temos de saber parar, sair. E parar em alta, com boas referências”, explica.

Um desses recomeços tem lugar no “Jornal das 8″, onde, em dez minutos, Sousa Martins fala não só de futebol, mas de “Fórmula 1, ginástica…” “O que nós operamos naquele espaço é ter boas histórias, boas narrativas, e estamos a conseguir. Aquilo não é futebolês, é algo que nós queremos que seja transversal, que acrescente até um momento de boa disposição.”

Às segundas-feiras à noite, ele e Rui Pedro Braz conduzem o novo programa da TVI24, “Temos Aqui Um Caso”, onde a dupla trabalha “em cima daquilo que vai estar a acontecer” no desporto nacional e cuja duração pode ser ajustada em função do tema e que terá um fact-checking dentro das quatro linhas.

 

Jornalista da TVI travou luta contra a COVID-19

 

Em outubro de 2020, Sousa Martins testou positivo à COVID-19. “A sensação de medo é uma coisa que está muito na minha memória. Mais do que o cansaço extremo que sofri naqueles dias, eu guardo para mim esse lado mais emotivo, que é o receio do que poderia acontecer.”

Isso e a quantidade de pessoas à sua volta que sofreram ou tiveram alguém que sofreu do mesmo mal, ainda que, felizmente, sem consequências de maior. “Agora, mantenho isso neste lado pragmático da minha cabeça, porque isto é mesmo perigoso e tento ter o máximo cuidado em todos os gestos da minha vida”, desabafa, acrescentando: “Fisicamente, não sinto nenhuma sequela. Posso fazer-me um bocadinho mais de maluco, que pode dar jeito”, diz a rir.

 

Texto: Luís Correia (luis.correia@impala.pt); Fotos: Arquivo Impala e Divulgação TVI

 

(artigo originalmente publicado na edição nº 1781 da TV 7 Dias)

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