TV 7 Dias ajuda transexual de Ídolos e noivo a saírem da rua e a mudarem-se para novo lar

Depois de ouvirem a história de Alexa, que participou no Ídolos, e do noivo, que estavam há 15 dias a viver na rua, um humilde operário e a mulher decidiram dar a mão ao casal.

11 Jan 2020 | 15:50
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Há cerca de duas semanas, Alexa Devni, a transexual que foi ridicularizada no programa Ídolos, da SIC – então ainda como Alexandre Rebelo, ou seja, antes de ter mudado de género –, revelou em desespero, na sua página de Instagram, que se encontrava a viver e a dormir com o noivo nas ruas da cidade do Porto. A publicação fez eco na Imprensa, que noticiou que a agonia do casal começou quando ela perdeu o emprego. Sem dinheiro para pagarem o quarto onde viviam, acabaram por ser despejados.

Depois de verem negados, pelas famílias de ambos, os pedidos de socorro, e de a Segurança Social de pouco lhes ter valido, Alexa Devni Rebelo, de 22 anos, e Ricardo Santos, de 36, apelaram aos portugueses que os ajudassem com comida ou algum sítio para dormir. E a ajuda chegou. Foi na quinta-feira, dia 26 de dezembro, que um casal de 29 anos do Norte entrou em contacto com a TV 7 Dias, a pedir para os pôr em contacto com Alexa e Ricardo, pois queriam ajudá-los. Pedindo anonimato, o elemento masculino do casal, que tomou rédea das conversações, começou a explicar esta posição: «Quero anonimato, não quero ganhar fama por causa disto, muitos aproveitam-se, mas não é isso que eu quero.»

E prosseguiu, esclarecendo o porquê de querer ajudar o casal, que acabou por passar o Natal na rua: «Apesar de nunca ter vivido na rua também já passei muito mal. Fui tirado aos meus pais quando era novo, fui adotado, vivi na Santa Casa da Misericórdia e sei o que é passar muita dificuldade.» Este operário fabril, que tem uma vida humilde, partilhada com a mulher e o filho de dois anos, deixou de imediato claro que não tem muito para oferecer, a não ser a sua solidariedade com o que agora é essencial. «Se eles quiserem, posso acolhê-los na minha casa, é um T1, mas eles podem dormir na sala, tenho lá um sofá-cama. Trabalho, tenho conhecimentos e vou tentar arranjar trabalho para ele numa fábrica. Para ela, aqui trabalho na minha zona, em pastelarias, não falta. E depois de terem a vida deles orientada seguem a vida deles», diz este benemérito, que já ajudou outras pessoas antes.

«Também já ajudei um casal de brasileiros, ainda nem há um ano. Estiveram aqui um tempo, arranjei-lhes trabalho, consegui-lhes ajuda das vicentinas e agora são meus vizinhos e o rapaz até já tem carro. Agora já é ele que me leva para o trabalho porque eu não tenho transporte, e é assim, ajudamo-nos mutuamente», conta o operário, que considera que não é preciso ter muito para dar a mão a quem mais precisa… «Se toda a gente ajudasse um bocadinho, mas nem sempre é assim.»

Este operário fabril tem uma única exigência… «Se eles estiverem dispostos a trabalhar, tudo bem, senão têm de se virar para outros lados. Eu ajudo, mas não é estar ali em minha casa e pensar ‘agora já tenho comida, dormida e roupa lavada’ e estão ali sem fazer nada», explica.

Agradecidos, mas com medo

 

Já a par de todos os pormenores e condições, a TV 7 Dias entrou em contacto com Alexa e Ricardo, que a ouvirem a boa-nova que tínhamos para lhes dar dispararam de imediato: «Que boa notícia nos está a dar! Estamos muito felizes! Só temos a agradecer!» Elucidados de que iriam ter de se mudar do Porto para outra terra no Norte, e que iriam ficar a dormir na sala de um T1, garantiram: «Para nós está tudo bem, nós queremos é um sítio para viver. E é claro que queremos ter um trabalho para depois termos a nossa casa.»

E cansados de dormirem ao relento, não contiveram o desabafo: «Era muito bom se pudéssemos ir para lá hoje.» E Alexa acrescentou: «Têm sido dias muito difíceis! Eu ontem liguei outra vez para a minha tia, para ver se ela nos podia dar alguma coisa para comer, e ela basicamente disse que como eu disse que ela não me ajudava, que não podia ter mais ninguém em casa dela, que tinha a casa cheia. A minha família sempre me virou as costas, a única pessoa que nunca me virou as costas foi a minha avó, se ela estivesse viva…», lamentou.

Apesar do operário fabril se disponibilizar a receber o casal nesse mesmo dia, tal não foi possível, uma vez que ele não possui automóvel e eles não tinham possibilidades económicas para se deslocarem. A viagem rumo à nova vida de Alexa e Ricardo acabou por acontecer no dia a seguir, sexta-feira, dia 27, e foi proporcionada pela TV 7 Dias, que acompanhou os últimos minutos do casal na rua e, depois de os levar a casa de uma amiga, que havia guardado os seus pertences, os conduziu até à casa do casal benemérito.

Apesar do entusiasmo e da felicidade pela ajuda, durante a viagem Alexa não conseguiu esconder alguma ansiedade. «Sinceramente, estou nervosa, porque fico com um bocado de medo… Hoje em dia é difícil haver pessoas boas e fico um bocado de pé atrás. Estão a dar-me a mão, mas é normal que fique com um pouco de medo, acho que é normal, depois de tanta coisa que já passei na minha vida. Mas como eles já ajudaram outros casais…», confessou.

Também o noivo partilhava deste sentimento. «Estou um pouco nervoso, porque nunca vi as pessoas, acho que qualquer pessoa que estivesse nesta situação também ficaria», disse. Porém, frisou: «Este foi o melhor presente de Natal!» Ao contrário do casal, o operário fabril mostrou-se sempre tranquilo, apesar do desconhecido. «Estou normal, à espera. A casa já está mais do que preparada para os receber», assegurou à TV 7 Dias, enquanto aguardava, ao lado da mulher e do filho de ambos, pela chegada de Alexa e Ricardo.

Mas este facto não o tornou intolerante ao receio de Alexa. «Está a correr tudo bem, estão a estranhar um pouco, mas é normal, como se costuma dizer ‘quando a sorte é grande o pobre desconfia’. Eu percebo», garantiu, algumas horas depois de ter o casal em sua casa. Nessa mesma altura, Alexa também assegurou: «Fomos bem recebidos e estou feliz.» Contudo, não escondeu que o primeiro impacto foi «estranho».

«É que eu estou numa aldeia, é diferente, eu estava numa cidade», explicou. Para Ricardo foi mais fácil. «Eu já estou habituado a estar em aldeias e estou mais à vontade, agora ela, como nunca esteve em aldeias, está a estranhar um pouco», disse, acrescentando: «Mas estamos muito felizes de estar aqui. Já estivemos a conversar e a conviver com os donos da casa e com o pequenino e está a correr tudo bem.»

Rejeitada pela família do noivo

 

Alexa Devni já passou por várias provações na sua vida. A primeira foi a de ter nascido como Alexandre Rebelo e de ter tido de viver como se fosse um homem até aos 18 anos. Entretanto, a jovem, que garante que a família sempre lhe virou as costas, à exceção da sua avó, com quem vivia, mas que acabou por falecer, conseguiu mudar de género, já se encontra a fazer vários tratamentos hormonais e vive atualmente um grande amor com Ricardo. Agora só lhe falta concretizar o sonho de ter uma casa e casar com o noivo, que conheceu há cerca de um ano.

«Conhecemo-nos através de um chat, ele pediu o meu número, mandou-me mensagem e depois começámos a falar ao telemóvel. Vai fazer um ano que namoramos, mas só estivemos pessoalmente em novembro, que foi quando ele veio para o Porto, para o pé de mim», revela Alexa, que conta de seguida como aconteceu o pedido de casamento. «Ele veio um dia antes dos meus anos, passámos o meu aniversário juntos, e ele pediu-me em casamento no dia do meu aniversário, a 10 de novembro, e ainda me deu um anel e meteu-se de joelhos», diz, feliz. Ricardo, que vivia em Lisboa, também se mostra feliz ao lado da noiva. Contudo, para viver este amor teve de abdicar da família, que não conseguiu entender a relação e tem bombardeado o casal com insultos.

«Eles ligaram, começaram a dizer-lhe que eu era um homem, que era uma vergonha. Tentaram fazer a cabeça dele, para ele se virar contra mim, mas o Ricardo chamou-lhes preconceituosos. Chamaram-me de travesti, de tudo e mais alguma coisa, e ainda disseram para eu me prostituir…», afirma Alexa, fazendo ainda saber: «E ainda dizem que fui eu que fiz a cabeça dele para ele vir para o Porto e que fui eu que o virei contra eles. Eu não o virei contra ninguém, eles é que podiam ter ajudado o irmão e o sobrinho e não ajudaram, viraram-lhe as costas.»

Revoltado com a atitude da família, Ricardo não esconde: «Mesmo depois de eles me terem feito sentir péssimo, eu não deixei de gostar dela, por isso é que vim para o Porto. E sinto ódio e rancor da minha família porque não a aceitaram por ela ser o que é. Eu expliquei a situação dela, mas a minha tia não quis aceitar e eu decidi vir para o Porto.» A terminar, acusa: «Eu vivia em casa da minha tia, foi ela quem me criou desde pequenino, mas chulou-me a vida inteira, porque eu trabalhava, mas nunca via o dinheiro à minha frente. Por isso, graças a Deus que vim para o Porto, e agora, com esta ajuda que nos estão a dar, que vou aproveitar até ao fim, vou começar a trabalhar.», remata o noivo de Alexa.

Texto: Susana Meireles; Fotos: João Manuel Ribeiro e D.R.

 

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