Do annus horribilis à última esperança! TVI faz 27 anos a declarar que «mudança começou»

Do canal da Igreja Católica à casa do voyeurismo graças ao Big Brother, a TVI tenta agora ultrapassar uma das mais graves tempestades em que já mergulhou. Um novo capitão a bordo, pelo menos, já tem.

20 Fev 2020 | 14:21
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Dia de festa em Queluz de Baixo! E não é só porque, esta quinta-feira, 20 de fevereiro, a TVI celebra o seu 27.º aniversário de emissões. Antes porque, depois de meses de derrotas consecutivas e em todas as frentes para a rival SIC, vivem-se finalmente dias de ânimo e uma réstia de esperança para uma reviravolta no panorama televisivo português apodera-se dos seus profissionais. Mas já lá vamos.

Aquele que foi, nos primórdios, o canal da Igreja Católica, até José Eduardo Moniz entrar em ação como Diretor-Geral e inverter uma grave crise económica que quase levou ao encerramento de portas da estação, está num novo ciclo. Mas ninguém apaga os últimos 12 meses de desgraça para a TVI e de triunfo para a SIC.

Depois de 150 meses consecutivos na liderança de audiências, a estação da Media Capital deixou escapar o título para a da Impresa. E para isso muito contribuíram as conquistas de Cristina Ferreira, dia após dia, nas manhãs da SIC. O ‘efeito Cristina’ arrastou-se por toda a programação e a TVI perdeu o domínio em todas as faixas horárias. Estávamos em fevereiro quando o monopólio da SIC tinha, por fim, início.

E dura até aos dias de hoje. Prova disso são os resultados com os quais os eternos rivais fecharam 2019. Por um lado, a SIC terminou o ano com uma quota de mercado média de 19,2%, o que representa uma subida de 2,7 pontos percentuais face ao período homólogo de 2018. Em sentido inverso, a TVI terminou o seu annus horribilis com uma média anual de 15,6% de share, menos 4,3 pontos percentuais do que no ano passado.

 

Três DDT em menos de um ano

 

Estabilidade na Direção de Programas da TVI também teve uma significativa quebra nos últimos 12 meses. Naquela cadeira estiveram sentados três nomes no último ano. O primeiro, Bruno Santos, estava naquele cargo há oito anos e foi com ele que a estação perdeu a hegemonia na liderança das audiências. Seguiu-se Felipa Garnel. A antiga apresentadora de televisão, que em tempos exerceu as funções de direção de revistas, foi anunciada como a nova Dona Disto Tudo (DDT) da TVI em pleno verão.

Seria, porém, sol de pouca dura. Praticamente seis meses depois e sem mostrar resultados, Garnel era substituída por Nuno Santos, diretamente vindo da Direção-Geral do Canal 11. É nele que está depositada a esperança para a mudança que muitos almejam em Queluz de Baixo. Nele e na equipa que está formar.

Pedro Ribeiro e Nuno Santos

No poder desde o início de janeiro, Nuno Santos anunciou no final desse mês o primeiro reforço na sua equipa: Pedro Ribeiro. Atual diretor de programação da Rádio Comercial, cargo que mantém mesmo após a nomeação, o radialista é agora o Diretor de Programas Executivo da TVI. Com ele «traz um ADN vencedor», ou não fosse a sua estação de rádio a mais ouvida em Portugal. «Inovação, criatividade e um pensamento ‘out of the box’» é o que Nuno Santos quer que o seu braço-direito transporte para a TVI que está a construir.

Os primeiros tijolos já foram cimentados. Isto apesar de alguns contratempos. Em pleno mês de janeiro, a TVI viu Ricardo Araújo Pereira mudar-se para a SIC e com ele levar o programa Governo Sombra, até então transmitido pela TVI24. Poucas semanas depois, um novo ataque da rival: Alexandra Lencastre mudou-se para Paço de Arcos após 17 anos em Queluz de Baixo. Uma saída envolta em polémica, ou não estivesse ainda a atriz, no momento do anúncio, a gravar a novela Na Corda Bamba.

 

As primeiras mudanças de um ciclo de mudanças

 

Mais ou menos na corda bamba, a TVI logo reagiu com uma contratação de peso: Cláudio Ramos. Rosto presente na antena da SIC, de forma consecutiva, nos últimos 18 anos, o comunicador largou o papel de ‘vizinho’ de Cristina Ferreira para abraçar o seu maior desafio profissional: ser o rosto do Big Brother 2020. Março é o mês da estreia desta aposta, feita ainda por Felipa Garnel mas reestruturada por Nuno Santos.

 

 

Num mês de mandato, o timoneiro da TVI fez muito mais. Garantiu uma nova temporada de Pesadelo na Cozinha, melhorando as condições contratuais ao polémico chef Ljubomir Stanisic, deu de presente a Rita Pereira e Pedro Teixeira uma nova edição de Dança com as Estrelasjá em exibição, mas sem os resultados ambicionados – tirou do baú a empoeirada última temporada da série Onde Está Elisa?, suspendeu o pouco surpreendente programa Sábado na TVI, apresentado por Mónica Jardim e João Montez, e testa novos horários e dias de exibição nos formatos Conta-me Como És e Somos Portugal.

Pelo meio, tentou e tenta combater a alegria de João Baião com a de Isabel Silva nas manhãs de sábado com emissões especiais de Você na TV!, que de Você na TV! pouco têm. E, por falar no matutino, Nuno Santos tem em mãos a tarefa de decidir o futuro de Manuel Luís Goucha e Maria Cerqueira Gomes. Na era de Garnel, ele era equacionado para as tardes da TVI. Já ela confirmou o regresso ao Porto, marcado para abril, deixando, assim, a apresentação das manhãs. O futuro só Nuno Santos conhece.

E ciente de que «a mudança começou». Foi este o slogan escolhido pelo Diretor de Programas para uma nova etapa na História da TVI. O sinal é claro: demonstrar aos demais que a TVI está viva e recomenda-se.

 

 

A mesma mensagem pretende demonstrar a Cofina, que se prepara para adquirir a Media Capital, a empresa que detém os seguintes ativos: TVI, TVI24, TVI Ficção, TVI Reality, TVI África, TVI Internacional, Rádio Comercial, M80, Cidade, Smooth FM, Vodafone FM, Maisfutebol, IOL, Plural Entertainment, Empresa de Meios Audiovisuais e Empresa Portuguesa de Cenários.

Sem objeções dos reguladores ao negócio, o grupo que tutela o Correio da Manhã, a CMTV e o Jornal de Negócios está agora na fase de aumento de capital, para, assim, concretizar a aquisição da Media Capital.

Só nessa altura, de facto, é que a verdadeira mudança vai começar.

 

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Texto: Dúlio Silva; Fotografias: Arquivo Impala
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