TV 7 Dias – Já se passaram quase 20 anos desde a estreia do Big Brother (BB). Que memórias guarda do programa?
Mário Ribeiro – Antes do Big Brother tinha uma vida normal de um estudante, que se levantava de manhã com a mãe a acordá-lo para ir para a escola, e depois foi estar lá quatro meses, porque eu também saí já quase no final, no dia 18 de dezembro de 2000. Entrámos completamente anónimos, para uma situação que nos era estranha, um ambiente completamente controlado, e nós éramos tipo ratinhos de laboratório que tínhamos ordens e missões semanais para cumprir. E depois entras anónimo e de repente, quando sais, toda a gente te conhece, te trata pelo nome, como é que se chama o teu gato, o teu cão, onde é que moras, os teus hábitos, e é um bocado estranho…
Foi estranho, mas foi algo que lhe agradou, ou não gostava?
Ao princípio era estranho, ou seja, eu não conseguia perceber muito bem o porquê. E é assim, toda a gente gosta de ser famosa, mas depois tu não acordas sempre bem-disposto, e as pessoas não têm consciência disso, e quando me abordavam achavam que eu tinha de ser sempre simpático, que iria estar com tempo para as ouvir, para falar, e nem sempre é assim. Há alturas em que realmente o facto de ser uma figura pública e ter falta de privacidade me incomodou.
Fazendo um balanço, ganhou ou perdeu mais por entrar no programa?
Só sei responder como é que foi a minha vida com a passagem e a exposição no Big Brother. A minha vida deu uma volta de 180 graus só pelo facto de eu ter participado, ou seja, tive acesso a coisas que uma pessoa com um quotidiano normal nunca iria ter. Conheci a realidade da chamada caixinha mágica, em que tudo acontece e tudo é bonito, conheci outras figuras públicas, jogadores de futebol, políticos, atores, atrizes, fui convidado para fazer coisas para as quais nunca me convidariam, então isso é tudo muito bom. Sinceramente, fazendo uma triagem de tudo o que aconteceu nestes 20 anos, eu acho que foi muito bom.
Então, se voltasse atrás, voltaria a participar?
Se eu tivesse 19 anos e tivesse de fazer a experiência que fiz naquela altura, sem dúvida, não pensava duas vezes. Se me dissessem: ‘Agora que vais fazer 39 anos, participavas?’ Com o tipo de vida que tenho e a perspetiva que agora tenho do programa, que é completamente diferente um reality show hoje do que era há 20 anos, se calhar aí eu já dizia que não.
Tem saudades desse tempo?
O que eu sinto é saudosismo, não são saudades, é aquela nostalgia boa de me lembrar de tudo o que foi bom e das pessoas com quem convivi. Depois do programa eu passei praticamente dois anos a andar na estrada, a dar beijinhos e autógrafos, porque eu na altura tinha uma coleção de óculos de sol, um CD de música e um livro.
Aproveitou bem a visibilidade que o programa lhe deu…
Quando tu sais de um programa és um produto Big Brother, não sabes fazer nada, mas és conhecido. Então o que eu fiz foi mostrar que tinha talento e que podia fazer alguma coisa com essa fama e aproveitar a oportunidade. E aí consegui provar algum do potencial que eu tinha, que ainda hoje aproveito, porque eu sou muito empreendedor. Por exemplo, eu nunca tentei promover-me porque tinha uma namorada, porque eu sabia que esse produto só tinha interesse no momento, então fazia as minhas parcerias de forma estratégica. Só para se ter uma ideia, eu mal saí do programa assinei um contrato com uma empresa que me deu um Ferrari para andar durante dois anos, para o show off.
Então o Ferrari vermelho não era seu?
Não, foi uma empresa de gestão de imagem que me deu tudo e mais alguma coisa para que as coisas resultassem. Trabalhei muito!
E depois desse sucesso todo, como é que acaba envolvido no mundo do crime? Foi condenado a seis anos e dez meses de prisão por sequestro, roubo qualificado, falsificação de documentos e posse de arma proibida.
Essa é a parte menos boa da fama. Não querendo de forma alguma desculpabilizar-me com quem eu andava, porque eu também não fui santo e não é isso que estou aqui a idealizar. O que eu estou a idealizar é que quando és presente a um juiz e és uma figura pública, com algum peso mediático, naquela altura eles achavam que eu ia servir de exemplo, que se me deixassem em prisão preventiva iria criar algum género de alarme social. Hoje em dia não faltam pessoas mediáticas, de poder e do Governo, que estão a aguardar julgamento em liberdade, e se calhar nunca lhes vai acontecer nada e eu paguei um pouco a moeda de ser conhecido. Agora também não posso pôr aqui em causa os princípios que o juiz deliberou. Mas o que eu sei é que se eu não fosse conhecido, as coisas não tinham acontecido como aconteceram. Eu fui julgado à convicção, sem uma única prova, e isso é ridículo!
E foi o último a quem foi concedida a liberdade condicional…
Do meu processo só dois é que ficámos detidos, e o outro saiu a meio da pena, a mim só me deram a condicional a dois terços, portanto, logo aí, houve uma desigualdade de critérios. Depois a minha pena foi a maior, ora se nem havia provas e fui condenado à convicção, devia ser ao contrário, portanto aí já está outra irregularidade. E o mais grave é que quando eu fui presente à juíza ela obrigou-me a assinar um protocolo que dizia que nada do que tinha sido dito naquela sala podia ser transmitido à Imprensa durante o meu termo de liberdade condicional, porque eles sabiam que o que fizeram comigo não era o procedimento normal, que não era justo, mas o que é que eu podia fazer? Já tinha cumprido o tempo que tinha para cumprir, já não iria mudar a opinião que as pessoas tinham sobre mim, então eu fiz exatamente o contrário, que foi voltar a provar às pessoas que eu não sou aquilo que tentaram fazer de mim e, pronto, estamos aqui há dez anos, outra vez.
Mas era ou não culpado? Esteve ou não envolvido nos crimes de que foi acusado?
O meu advogado fez prova em tribunal, que em duas das acusações que me fizeram eu estava em Lisboa a trabalhar! Ao princípio, o que eles me acusavam era de crime de recetação, ou seja, é quando se compra material roubado, mas não conseguiram fazer prova, não me apanharam com o material, só havia indícios. Aliás, houve um inspetor da Polícia Judiciária que fez questão de dizer que nunca tinha ouvido falar do meu nome nesse processo e que depois me foi atribuído esse crime. A verdade é que o meu advogado fez sempre prova e, inclusivamente, olha só a estupidez, fui acusado e condenado do crime de porte de arma ilegal, porque eles apanharam na mala do meu carro – que nem era meu, era da minha antiga namorada – um martelo pequenino.
A acusação de porte de arma ilegal não foi por uma arma de fogo?
Não, eles nunca me apanharam nenhuma arma de fogo, acusaram-me de porte de arma ilegal só porque encontraram um martelo, na mala de um carro, que nem sequer era meu. Eu tenho cenas tão ridículas no meu processo! Por exemplo, eu era para ser presente ao juiz nesse mesmo dia à noite, mas só fui presente ao juiz no outro dia à tarde porque era o juiz que lhes interessava para me decretar a medida de coação mais grave, a prisão preventiva. Houve muitas irregularidades. Eu na altura ainda pensei ir para o constitucional, mas para quê? Não tinha de provar nada a ninguém, já tinha cumprido o que tinha para cumprir, por isso não valia a pena, ia só gastar tempo e dinheiro.
O que está a dizer é que nunca cometeu crime nenhum?
Não, desse género não. Não sou nenhum rapaz santo, conheço marginais, conheço boas pessoas, tenho grupos de amigos que são bons, outros que são menos bons, mas o facto de os conhecer e lidar com eles não faz de mim… Que os acompanhe quando eles vão fazer coisas que não devem, são coisas diferentes, e posso dizer que não, nunca o fiz. Tanto não os cometi que eles nunca o provaram e não conseguem provar, porque eu não estava no Porto. Só para se ter uma ideia, eu quando fui indiciado tinha para aí vinte e tal crimes, depois foram caindo, até que chegou a um ponto em que eles não me podiam libertar sem me condenar porque eu já estava preso há três anos. Quando o meu julgamento aconteceu, eu estava preso há dois, tinham de me condenar por alguma coisa, nem ficava bem para a Justiça eu ser absolvido, porque eles prenderam-me para arranjar provas, estive dois anos detido, e eles não arranjaram provas, portanto, foi um bocado incompetência da Polícia.
Como é que o conseguiram condenar?
À convicção. Portugal é dos poucos países em que se pode condenar alguém com base na experiência do juiz, ou com base naquilo que ele ouviu e que acha relevante para o apuramento da verdade, mesmo sem provas concretas. Chama-se mesmo ser condenado à convicção, existe mesmo essa moldura do código penal.
Então, como é que se explica que o seu nome acabe envolvido nisto?
O meu nome foi envolvido pela incompetência da investigação. Eles queriam acusar-me de recetação de material roubado e eu acabo por ser condenado pelos crimes de quem cometeu esse tipo de roubo. Agora o meu nome aparece no processo como alguém que supostamente comprou o material que foi roubado desses sítios.
E tinha comprado?
Não! Se eu fui preso sem provas é porque eles não me apanharam nada, como é óbvio. Eles revistam o meu carro, a minha casa, revistam tudo e mais alguma coisa, e não encontram nada. Como é que o meu nome aparece? É fácil, eles apanham alguém na rua que fez um roubo e esse diz ‘eu vendi ao fulano’ e como o fulano não é o desgraçadinho que não tem casa e que eles sabem que no dia a seguir está na rua, acharam que ali poderiam ter encontrado o filão do ouro. Mas tiveram azar, porque ali havia uma pessoa normal que não tinha nada do que eles procuravam.
O que está a dizer é que como conhecia algumas pessoas que estavam envolvidas nesses crimes acabou também por se ver envolvido?
Basicamente, foi isso. Só que os que apanharam com os materiais roubados e com as armas não os condenaram e nem sequer os indiciaram, e depois nós… na altura estavam cinco pessoas indiciadas, e só dois é que ficámos detidos. Eu tinha pessoas no meu processo que nem conhecia, que nunca os tinha visto. A única pessoa que eu conhecia e que realmente estava no meu processo foi a que também foi detida e essa era realmente uma pessoa com quem eu até privava algumas vezes, porque trabalhava comigo, agora as outras três pessoas do processo eu nunca as vi, nem sabia o nome delas.
Pode afirmar com toda a segurança ‘eu sou inocente, sempre fui inocente’?
Eu não tenho de afirmar nada porque eu estar a dizer isso vai parecer presunção da minha parte e a única coisa que eu tenho de dizer é que o que eu tinha para cumprir, já cumpri.
Durante o tempo em que esteve preso, alguém lhe fez mal?
Não! O pior mesmo é tirarem-te a liberdade, a partir daí é viveres numa microssociedade. Faz de conta que estava no regime militar e que tive de cumprir.
Acabou por aproveitar bem o tempo na prisão…
Eu aproveitei para estudar, para me cultivar como pessoa, e aprendi a defender melhor os meus direitos. Basicamente, reeduquei-me e eduquei-me ao mesmo tempo, cresci do ponto de vista académico e literal. Passei a maior parte do meu tempo a ler e dediquei-me muito ao desporto.
Antes mesmo de sair da prisão abriu um bar e organizou a sua vida…
Eu sempre tive a minha vida organizada. Basicamente, tive uma suspensão da minha vida por causa daquilo, mas não deixei de ter os meus objetivos. Tanto que eu saí em liberdade condicional no final de 2009, passaram-se dez anos, e eu neste momento tenho três estúdios de solário, o Body Sun, que são dos maiores do Norte e do País, tenho uma clínica de estética avançada, a Beauty Clinic, que abriu este ano, e também tenho a minha parte de trabalho como PT e ainda fiz o curso de Psicologia. Eu consegui construir no espaço de dez anos coisas que muitas pessoas não conseguem em 30, mesmo tendo tido essa pedra que me tirou da minha vida durante quase cinco anos.
E o sonho de ser ator?
Eu sempre soube que não era propriamente o Leonardo DiCaprio, não tinha assim muito jeito para a coisa. Sinto-me muito à vontade perante as câmaras, mas também nunca foi uma coisa que eu ambicionasse. Na altura surgiu o convite para ir para o Brasil e fiz umas participações na Malhação, em 2004, e foi giro, mas nunca foi nada que me motivasse. A posteriori fiz uma curta-metragem com o Óscar Branco e com o João Didelet.
E, em termos pessoais, como está a sua vida?
Não casei, mas namoro. Não tenho filhos, faz parte dos planos, mas é das tais coisas que vou protelando. Já pensei sobre isso e começa a fazer sentido, mas uma coisa de cada vez.
E o que é feito da Joana, com quem namorava quando estava no BB?
Sempre mantivemos contacto, porque sempre tivemos uma relação muito sincera, e quando as coisas não resultaram separámo-nos por mútuo acordo, não foi por algum motivo extra.
E a Cláudia Ohana, a atriz brasileira com quem desfilou no Carnaval de Sines e com quem se disse que teve um romance? Nunca o admitiu, mas, afinal, houve ou não romance entre vocês?
Houve… Não podemos dizer que foi um namoro, foi uma aventura. Acabámos por nos envolver, sim.
Mantêm contacto?
Falo muitas vezes com ela, mas, por incrível que pareça, não pelas redes sociais, é mais por telefone.
Quando se envolveu com a Cláudia Ohana, ainda namorava com a Joana?
Não, já não!
Inicialmente, a TVI queria assinalar os 20 anos do Big Brother com uma edição composta por antigos concorrentes. O Mário foi um dos convidados. No início desta entrevista disse que hoje, com 39 anos, se calhar não participaria. Recusou?
A minha postura perante a Endemol sobre o convite foi que neste momento eu tenho a minha vida, os meus negócios, e se me ausentar vou ter de pagar a alguém para fazer o meu trabalho, e para isso tenho de ter um cachet que ache adequado ao que vou deixar cá fora. E depois também tem de me valer a pena participar num programa destes, onde estamos completamente deslocados das nossas coisas, então como eu costumo dizer, ‘se não há dinheiro, não há palhaço’. Eu tenho um valor, se querem cobrir, eu penso e até posso participar, senão amigos como dantes. Se precisarem de mim pontualmente podem contar comigo, agora participar só para aparecer, não, famoso já eu sou.
Quanto é que eles lhe propuseram?
Quando me abordaram nem chegaram a falar do cachet, porque eu disse logo: ‘Eu quero isto, isto e isto. É viável?’ Eles disseram que iam ver. Depois ligaram-me outra vez a tentar persuadir de outra forma e eu sempre disse qual era o meu valor. E, pronto, até hoje ficou assim.
E quanto é que pediu?
Eu não pedi cachet diário, o que eu disse foi que se participasse, independentemente de estar lá uma semana, um mês ou o tempo do programa, queria um cachet razoável pela participação.
Uns bons milhares?
Claro! Se eu me vou privar do meu trabalho… Eu não tenho 18 nem 19 anos, e já na altura nos pagavam bem, eu ganhava dez contos por dia, € 50, e o prémio eram 20 mil contos, € 100 mil.
E depois disseram-lhe que não aceitavam?
Não, eles nunca fecharam a porta. Eles aliciaram-me com o convite e eu disse-lhes a minha proposta, eles tentaram renegociar o que eu tinha proposto e eu voltei a dar os meus moldes, eles disseram que não, mas disseram que futuramente poderíamos falar outra vez.
Então, não é uma porta fechada?
Não, mas volto a dizer que se ‘não há dinheiro, não há palhaço’.
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Texto: Susana Meireles; Fotografias: João Manuel Ribeiro e Arquivo Impala
(entrevista originalmente publicada na edição nº 1722 da TV 7 Dias)
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