Luísa Castel-Branco, 68 anos, foi vítima de abuso sexual na infância. Duas vezes. O relato é feito pela própria a propósito do lançamento do segundo volume da trilogia autobiográfica, “O Amor É Uma Invenção dos Pobres – Pensamentos e Emoções Sobre o Amor e os Filhos”. Na obra, disponível esta quinta-feira (17), Luísa Castel-Branco conta vários acontecimentos da sua vida.
Um dos que mais impressionou pela crueldade que é, são os abusos sexuais de que Luísa Castel-Branco foi vítima na infância. Em entrevista a escritora e comentadora do “Big Brother”, da TVI, conta o que sofreu às mãos de um “um amigo da família” e de “um primo afastado” quando tinha 7 e 11 anos.
“Tem-se uma vergonha para o resto da vida, como se aos 7 e aos 11 anos pudesse fazer-se mais alguma coisa. Quando, naquela altura, nem sabia o que aquilo era. Daí que não fosse passível de falar”, revela Luísa Castel-Branco.
A escritora viveu com este segredo até hoje e explica por que decidiu manter-se me silêncio. “Com vergonha. É tão estúpido… Uma pessoa está a ver qualquer uma das milhentas notícias que aparecem e olha aqueles milhentos casos que vão a tribunal e saem de lá com penas suspensas. Tenho sempre vontade que alguém ensine o juiz ou a juíza o que isto realmente significa. É óbvio que nenhuma daquelas crianças merece ter vergonha. Deve ser, exatamente, o contrário”, assume, explicando que na altura não teve a noção exata do que lhe tinha acontecido e que até hoje não resolveu este trauma.
“Tive a noção de que aquilo não era normal e que não queria aquilo. Mais do que isto, é muito difícil para perceber. (…) Acho que qualquer criança que é molestada é uma criança que perdeu a vida, a inocência, os sonhos, uma data de coisas… Só mais tarde, quando fiz psicanálise, percebi que aqueles pesadelos que tinha recorrentemente eram verdade”, poartilhando, explicando que procurou ajuda quando a filha Inês Castel-Branco tinha nove anos.
“Achava que tinha pesadelos, como todos têm pesadelos de muita coisa… Uma vez destapado… A partir daí, vêm os sons, a textura da roupa… Vem tudo em catadupa. E isso é que deu origem a que eu, a seguir, tivesse ataques de epilepsia e tivesse ido para uma clínica fazer uma cura de sono“, conta.
Inês Castel-Branco soube dos abusos de Luísa Castel-Branco pelo livro
Luísa Castel-Branco guardou para si, durante estes cerca de 50 anos, um segredo que até hoje não superou. E foi através do livro que decidiu partilhar. Aliás, a filha Inês Castel-Branco soube de tudo ao ler a obra. “Quando o livro passou para a última fase da impressão, pedi à minha filha, Inês [Castel-Branco], que o lesse, em nome de todos os meus filhos. Eles eram as pessoas que, para mim, realmente contavam, além, obviamente, do Francisco, que também leu. Agora, os dados estão lançados e tenho de ter coragem para aquilo que vai haver. Não é fácil…”, diz, para depois revelar a reação da atriz.
“Disse que eu escrevia muito bem e que estava tudo bem… Aquilo envolve o pai dela, a minha vida o mais pessoal possível… Envolve coisas de que nenhum deles sabia. Queria que ela soubesse antes. Ela fez-me um telefonema e disse: “A mãe escreve muito bem.” E eu disse: “Está bem, filha, mas…”. “Não há ‘mas’ nenhum”, disse-me ela. Pronto. A partir do momento em que não há “mas” nenhum… Tive o único aval que, para mim, era importante“, sublinha na entrevista à Selfie.
Texto: Ana Lúcia Sousa; Fotos: Instagram Luísa Castel-Branco